Monday 24 May 2010

VISITA INESPERADA

Uma das telas maiores e mais fora de circuito (portanto menos conhecidas) de Johannes Vermeer, “Jesus visitando Maria e Marta”, da Galeria Nacional da Escócia, em Edimburgo, visita atualmente a Casa Maurício de Nassau, em Haia, em uma pequena exposição montada em torno de trabalhos da juventude dele, que também inclui a grande tela de Dresden e as outras 3 do próprio museu. Boa chance para se comparar os 3 maiores trabalhos dele, dos anos de aprendizado, ainda inseguros no desenho.

Tuesday 11 May 2010

LYON

Todos já ouviram falar em Lyon, mas poucos efetivamente a visitaram.
Poucas cidades rivalizam com ela em beleza e complexidade de situação. Fica na larga confluência de dois rios, plena de morros cobertos de casas e edifícios em quentes e sensuais tons ocres ou rosados. O relevo é tão semelhante ao de Praga que muitas cenas do filme A Insustentável Leveza do Ser foram filmadas aqui! Porém, ao contrário de Praga, faltam aqui os grandes monumentos. Lyon nunca foi capital ou sede de poder. Sequer hoje é capital provincial – a capital da Borgonha é Dijon.
Lyon desenvolveu-se desde o Renascimento, primeiramente como entreposto comercial entre a Itália e a França, posteriormente como pólo industrial de tecelagem.
Quando se olha os edifícios mais antigos da cidade, sem exceção o pé direito de todos os andares será mais alto do que o normal. Por quê? Para caber um tear. Os tecelões habitavam e trabalhavam no mesmo prédio.
A feição urbana mais característica da cidade são as passagens interiores comunicando edifícios, aqui chamadas traboules, do latim trans(através) e ambulare(caminhar). São centenas delas, invisíveis da rua, porém preenchendo praticamente cada interior de quadra da cidade. É como um mundo paralelo, ao qual só se tem acesso ao entrar nos edifícios.
Destinam-se originalmente e comunicar de
forma mais rápida e prática dois pontos em rua diferentes, em geral pararelas, sem ter que se passar pela rua propriamente dita. Algumas traboules são mais conhecidas – ou mais turísticas – do que outras. Algumas localizam-se tão altas no morro, tão distantes do Centro, que só mesmo os lyonnais natos as conhecem. Os estilos misturam-se: renascentista, barroco, rococó, neoclássico, moderno. O objetivo básico permanece: eficiência na circulação.
Além das traboules, de Lyon deve-se falar da culinária, tida como a mais típica da França. Os pratos tradicionais são gordos e pesados, com base de carnes bovinas, suínas ou aves. Especialidades como miolos e coisas afins, muitas das quais requereriam uma aula de anatomia animal para se entender. A maioria tão bem feitas que nem se desconfia o que é...
Os restaurantes populares tradicionais chamam-se bouchons. Nos mais típicos, o patrão atende e a patroa cozinha. O patrão recebe, senta os clientes e, dependendo de seu humor, oferece um cálice de vinho da casa, sentando-se à mesa para dizer o que a patroa está cozinhando no dia.
Orgasmo total: no dia em que fomos a um bouchon com nossos amigos, o patrão oferecia uma visita guiada da traboule adjacente ao restaurante.

Monday 10 May 2010

Vale do Ruhr - Capital Cultural Européia 2010

Até a poucas décadas, a região alemã do vale do rio Ruhr possuía a mais desenvolvida siderurgia mundial. Cidades como Dortmund, Duisburg, Essen e Wuppertal nunca ficaram muito conhecidas, afinal eram pólos industriais sem importância histórica, em uma região homogeneamente rica e suburbana. Nos mais de 50km de extensão desse trecho, uma cidade sucede à outra: todas pequenas, inexpressivas, sem poder de atração que não o de servirem de dormitório ao operariado.
Quando a siderurgia mudou-se inteiramente para a China e a indústria local derivou para a tecnologia e a informática, somente os colossos da era industrial permaneceram, como assombrações do passado.
Como o sangue alemão se orgulha de tudo, roteiros turísticos foram organizados em torno das indústrias abandonadas. Pelas estradas da região, seguidamente vê-se placas indicando prédios industriais outrora importantes. O que não deixa de ser no mínimo peculiar – quem faria turismo de complexos industriais abandonados?! Pois aqui se faz.
Neles proliferaram os centros culturais. A cada poucos quilômetros de distância encontra-se um, cada qual mais imponente do que o anterior. Também as faraônicas casas dos grandes industriais tornaram-se atrações turísticas. Um bom exemplo é a imponente Villa Krupp em Duisburg, onde Lucchino Visconti filmou “Crepúsculo dos Deuses”, estrelando Helmut Berger em um relato da decadência da poderosa família durante o período nazista.
Tendo partido a indústria realmente poluidora, o vale do Ruhr tornou-se igualmente pioneiro em tecnologia de despoluição de solo, ar e água. O que hoje se visita é uma sucessão de pequenos conglomerados suburbanos extremamente idílicos e verdes, realmente aprazíveis de ser viver. O governo investe somas significativas não só na despoluição, como na criação e manutenção das novas atrações culturais e ecológicas (os “parques paisagísticos”, o que em inglês se traduziria por brown areas), todas em condição invejável. No recém-reformado Museu Folkwang de Essen pensa-se estar no MoMA nova-iorquino ou na Tate londrina.
Porém, o mais singular museu que visitei no Ruhr foi o Centro Internacional de Arte Luminosa, em uma antiga cervejaria desativada do vilarejo de Unna.
Em visita guiada de 75min, percorre-se os salões subterrâneos da outrora cervejaria. Até agora, 11 artistas internacionais foram convidados a realizarem seus grandes projetos, cada qual em seu próprio salão. Alguns artistas são bastante veteranos e conhecidos nos meios especializados: Mario Merz, Rebecca Horn, James Turnell, Christian Boltansky. Os ambientes de luz e som desafiam descrições ou fotos.
Em um mágico salão onde as passarelas para os visitantes flutuam no ar, 3 globos de espelhos girando, milimetricamente calculados, refletem milhões de pontos luminosos no espaço escuro, como que o Universo em sí.
Em uma sala toda em granito preto, um círculo de mármore branco no chão reflete, sob uma lente poderosa, o que se passa no céu acima; parte da mesma instalação, 3 andares acima, em um cone de concreto a céu aberto, os visitantes sentam-se em bancos circulares e olham o céu como em um filme, recortado em um círculo na ponta do cone: http://www.youtube.com/watch?v=3rJa9kIVwto.
Em uma espécie de “poço” de vários andares, piscam em neon palavras como EU e SIM em várias línguas; o poço é visível de baixo ou de cima, do nível da rua, quando diferem as palavras piscando.
Em um largo corredor escuro, jorram dos dois lados cascatas ininterruptas de gotas d’água, que liricamente cintilam à luz sobre elas.
Entre outras instalações, todas impressionantes.