Thursday 3 November 2011

Desenhos de Rubens


Comprei o grosso catálogo da exposição Rubens, Van Dyck & Jordaens, agora em cartaz na filial amsterdamense do Museu Hermitage, e o estou vorazmente lendo.
Surpreendí-me ao ler que as grandes pinturas de Rubens tornavam-se quase obras públicas em seu atelier de Antuérpia, onde dezenas de aprendizes e assistentes participavam, e uma considerável massa vinha ver os trabalhos. Porém o mais interessante é que ninguém nunca viu ele desenhar, o que ele só fazia sozinho e jamais deixava ninguém olhar. Guardava seus desenhos muito organizadamente e estabeleceu no testamento que eles só poderiam ser vendidos (ao contrário do resto do espólio, que foi leiloado com seu cadáver ainda quentinho), quando seu filho mais jovem completasse 18 anos, e fosse estabelecido que nenhum dos herdeiros os precisaria "para consulta", em uma possível carreira artística. (Ninguém na família foi artista, depois dele, logo a coleção rapidamente dispersou-se.)

Monday 17 October 2011

Biblioteca 24 horas

Uma estante transadinha e protegida das intempéries em um lugar público tranquilo. Quem passa pode deixar um livro ou levar um. Ou até mesmo pegar um emprestado por alguns minutos, sentar-se por perto e ler alguma passagem.
A invenção tem se tornado moda na Alemanha, onde pela primeira vez registrei em Augsburg, em 2008. Mais recentemente, em Bruchsal, em agosto deste ano (↑). Uma variante: sobre um banco de igreja, em uma caixinha de madeira.

Friday 14 October 2011

diminutivos & AUMENTATIVOS

A melhor proteção é a ignorância.
Apesar de a língua holandesa ser paupérrima e exclusivamente coloquial*, os holandeses vangloriam-se dela. Em especial do fato de poderem colocar substantivos no diminutivo, o que fazem com frequência. Tudo aqui é “cafézinho”, “carrinho”, “namoradinho”, independente de tamanho.
O que eles pensariam da língua portuguesa, onde se pode colocar não só os substantivos em diminutivo e aumentativo, como também outras classes de palavras?!
Vocês já analisaram:
- “Ele é BONITÃO.” (adjetivo aumentado)
- “Saí com o dinheiro CONTADINHO.” (verbo no particípio aumentado)
- “Olha só que MULHERAÇO!” (substantivo não só aumentado como trocado de gênero)
- “Ele está VIAJANDÃO.” (gerúndio no aumentativo)?
Não sou dado a ufanismos, mas não conheço outra língua que se preste a tanto.

* Não há literatura clássica, ou linguagem culta: a Rainha fala igual a um pedinte de rua.

Thursday 12 May 2011

OSSOS DO OFÍCIO


Ossuários não são incomuns em culturas hispâncias, onde exercem uma macabra atração sobre católicos fervorosos.
Porém este tem situação e história particulares.
Em Kutná Hora, uma pacata cidade no coração da Boêmia (antiga Checoslováquia, hoje República Checa), uma pequena igrejinha suburbana dos 1700 oculta uma cripta repleta de ossos, em arranjos que decoram seus ambientes subterrâneos. Tudo foi montado por uma só pessoa, um zelador – provavelmente entediado... – que nos 1870 passou anos a organizar os ossos e fixá-los em formas barrocas, imitando a arquitetura clássica da outrora rica cidadezinha mineira medieval.
O que mais me surpreende é algo assim ser NOVO, pois, durante o Comunismo e logo após a ele, apesar de estar lá a capela não era aberta, ou sequer conhecida; há pouquíssimos anos é que a abriram e jorraram os turistas.
Visitar http://www.kostnice.cz/

Wednesday 11 May 2011

TUDO SE RECICLA

Da coleção de revistas alemã sobre design religioso de uma amiga retirei prédios contemporâneos must see para ir checar.
Estando em Aachen, Alemanha, no fim-de-semana passado, fui visitar um deles.
A igreja Saint-Josef foi construída no século 19. Nos últimos tempos, o declínio significativo do número de paroquianos ocasionou um imenso vazio na nave da igreja durante os restritos horários de culto.
Transformaram então 2/3 do interior da igreja em ... cemitério! (Como costumava ser com grande parte das igrejas na Europa Setentrional até a invasão de Napoleão, que proibiu este hábito, na época extremamente insalubre.) Neste caso, um cemitério de urnas com cinzas de pessoas cremadas.


O resultado é espetacular. Um ambiente de solenidade indescritível.
A restrita palheta de materiais inspira serenidade e harmonia: cascalho cinza, concreto aparente, aço enferrujado, vitrais em cinzas e poucos azuis, cubos de granitos locais contendo as cinzas.
Um monumental candelabro (20m de comprimento) em plástico branco translúcido paira como um zeppelin no centro da nave. Na longitude total do corpo da igreja, corre um fio de água à Alhambra granadina.

Totens de concreto funcionam iconicamente como receptáculos dos receptáculos, uma estrutura rigorosa e modulada.

Friday 15 April 2011

Controle bávaro

Por uma tradição cuja origem desconheço, os transportes coletivos no Leste Europeu têm roleta livre, passa-se sem impedimentos e cada um é responsável por providenciar sua passagem. O que nem sempre é fácil, em se tratando de turista que não conhece ou entende o sistema. Assim é possível passar-se dias ou até semanas andando-se para lá e para cá sem pagar! O outro lado da medalha é que … eventualmente pega-se um controle, quando dois, 3 ou 4 camaradas robustos e mal-encarados (potencialmente ex-presidiários, a quem este é o primeiro trabalho oferecido em sua “reintegração”) entram no vagão, fecham as portas e pedem a todos que mostrem suas passagens válidas. Quem não tem, além do tratamento desagradável recebe uma multa. Que tradicionalmente sempre teve que ser paga em espécie, no ato (ou levavam o infrator a uma delegacia de polícia), mas hoje em dia pode ser paga no banco, se o infrator mostrar um documento de identidade. Há poucas semanas, em Munique, me pegaram. Olha que eu já estava acostumadíssimo com o sistema, sempre transportei-me tão legalmente quanto pude, em meus 10 anos de Viena e adjacências, e não deixaria de fazê-lo como turista por poucos dias, arriscando a estragar meu passeio. Chegando a Munique, tentei a todo o custo comprar uma “passagem semanal”, o que muito convém a quem se transporta vários dias em uma cidade, andando de metrô, bonde ou ônibus. Nenhuma das máquinas que vendia a passagem semanal aceitou qualquer de meus 4 cartões bancários, e as máquinas que aceitavam dinheiro não vendiam a tal passagem semanal. Como os guichês “com atendente” em 3 grandes estações centrais da cidade não tinham ninguém, acabei tendo que comprar de uma máquina, com dinheiro, uma passagem múltipla, cujos critérios de utilização lí em letra miudíssima, no verso. Usei constantemente carimbar uma linha dessa passagem múltipla para cada vez que me transportei, o que no verso era especificado “serve para percursos de até 4 paradas”. No dia em que fui controlado, eu tinha minha passagem em ordem. Os 4 boçais examinaram as passagens de todos no vagão e sentaram-se. Passando mais uma parada, um deles voltou a mim e pediu para ver de novo minha passagem. “O senhor acabou de infringir a lei. Dê-me sua identidade.” E passou-me uma multa de EUR 40 para pagar no banco, mostrando-me no verso da passagem – em letras menores ainda – que o limite de 4 paradas era para ônibus e bonde, para metrô era 2. Desavergonhadamente visando estrangeiros, o desgraçado esperou sentado que eu infringisse a lei! Bem, o passaporte que mostrei era holandês, e o endereço que dei era correto, embora lembro de não ter mencionado que era em Amsterdam. Não paguei nem pagarei a multa, e caso receba no futuro algum comunicado (eles não podem acionar alguém no exterior), responderei à altura - em inglês, porque está na hora de alguém colocar esta Comunidade Européia em ação, a lingua sendo uma boa maneira de começar.
Ah, a arrogância que um passaporte europeu dá!

Este humorístico filminho (alemão c/ subtítulos, 1992, 12min) mostra um tempo em que os controladores eram civilizados:
http://video.google.com/videoplay?docid=2103841859203199562#

Wednesday 13 April 2011

Tentando recomeçar...

Meu blog mofado, aranhento. O que falar não me falta, mas vejo pouco ou nenhum sentido em fazê-lo.
Adoro tentativas de organizar o mundo. E de apresentar ao povo conhecimentos que jamais deveriam deixar o domínio da elite. (Mas afinal “qualquer miserável tem carro”!)
Deliro com livros da Taschen, como ”100 cadeiras da história”, “Hoteís-design da Indonésia”, "Fotografias Zulu".
Outro dia recebí de uma amiga uma .pps entitulada “Os 33 edifícios mais raros do mundo” (”raros” como traduzindo “estranhos” do espanhol?).
Aqui vai minha contribuição: as 4 melhores árvores na pintura contemporânea.

Tudo começou com esta manjadíssima cerejeira em flor do Museu Van Gogh, aqui de Amsterdam.

Seguiu em Budapest com este cedro do pouco conhecido e maldito pintor húngaro Csontváry, um dos poucos para quem Picasso baixava a crista.

Um dia ví estas árvores na estrada do russo-alemão Alexej von Jawlensky, no Museu Municipal de Haia.

Mais recentemente, esta tela quase inacabada do holandês Kees Van Dongen, da coleção do Hermitage de São Petersburgo.

Aguardo ansiosamente a próxima na seleção.