Num bar punkíssimo da periferia
berlinense, um pouco em estilo marroquino, mas basicamente uma
portinha fechada onde se bate e abrem, minha amiga e eu entramos e
pedimos algo para beber. Várias salas, estilosas e transadas;
senta-se em almofadas no chão. Ela diz ao garçon que queremos
visitar “O Labirinto”; pagamos EUR10 por pessoa e ele dá a cada
um uma ficha metálica, dizendo que mais tarde vem chamar. Uma 1/2
hora depois, uma moça vem apanhar um por um: venda os olhos, caminha
alguns metros, passando por portas, pára e faz uma gostosa massagem
em alguns pontos, como pescoço e coluna. Tira a venda, diz para a
gente seguir caminhando e abrir a porta, que dá numa câmara escura, onde mal se cabe, e um vídeo silencioso de um velho barbudo faz
sinal para a gente enfiar a ficha e abrir a porta. Ela dá numa
pequena câmara escura, onde há um buraco negro. Obviamente é um
tobogã, o qual entro primeiro com os pés, para escorregar. Ele
desce por alguns metros (nada muito violento), quando os pés batem
em uma parede e noto que do lado esquerdo há um buraco com alguma
luz. Saio de lado, apertadinho, por ali. É uma espécie de “oca”, na verdade um hall com várias entradas e
saídas, de diversas formas em diversas alturas (algumas tem-se que escalar para atingir), com as paredes cobertas de texturas e objetos indefinidos.
(Todo o chão por onde se caminha é acidentado, jamais reto ou
liso.) Olho ao redor por alguns minutos, e saco que o negócio é ir
explorando-as uma por uma, eventualmente voltando a esta “oca”.
Todos os caminhos voltam mais ou menos a este lugar; são sinuosos, escuros,
apertados, em materiais diversos, cores variadas, com iluminação
especial, um pouco como um “trem-fantasma”, só que sem elementos
de dar susto; cada ambiente como um pequeno universo surreal. Tudo
muito apertado, inóspito, às vezes desagradável de tocar; com
pouco ar, úmido. Câmara após câmara. Às vezes, alguma surpresa,
como uma salinha onde cabe-se em pé e a luz fluorescente é intensa.
Depois de algum tempo, passa-se a encontrar outras pessoas “perdidas”
(nunca em pé; sempre agachadas, ajoelhadas, tentando passar por
pequenas aberturas entre um lugar e outro, nem sempre fácil; com
pouquíssima luz, colorida ou piscando irregularmente), os quais
cumprimento e faço algum comentário. Alguns assustam-se de ver algo
se mexendo (os outros visitantes). Em um ponto do percurso, encontro a
amiga com quem fui. Sabe-se que o objetivo é sair dali, porém não
sem antes explorar tudo. Depois que tenho certeza de ter visto todos
os recantos, passagens e câmaras, uso a saída oculta, aliás uma
parede que se move (só se sabe se tentar empurrar), que descobrí. E
para chegar nela passa-se por um longo corredor acidentado, onde só
se pode tatear...
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