Monday 10 May 2010

Vale do Ruhr - Capital Cultural Européia 2010

Até a poucas décadas, a região alemã do vale do rio Ruhr possuía a mais desenvolvida siderurgia mundial. Cidades como Dortmund, Duisburg, Essen e Wuppertal nunca ficaram muito conhecidas, afinal eram pólos industriais sem importância histórica, em uma região homogeneamente rica e suburbana. Nos mais de 50km de extensão desse trecho, uma cidade sucede à outra: todas pequenas, inexpressivas, sem poder de atração que não o de servirem de dormitório ao operariado.
Quando a siderurgia mudou-se inteiramente para a China e a indústria local derivou para a tecnologia e a informática, somente os colossos da era industrial permaneceram, como assombrações do passado.
Como o sangue alemão se orgulha de tudo, roteiros turísticos foram organizados em torno das indústrias abandonadas. Pelas estradas da região, seguidamente vê-se placas indicando prédios industriais outrora importantes. O que não deixa de ser no mínimo peculiar – quem faria turismo de complexos industriais abandonados?! Pois aqui se faz.
Neles proliferaram os centros culturais. A cada poucos quilômetros de distância encontra-se um, cada qual mais imponente do que o anterior. Também as faraônicas casas dos grandes industriais tornaram-se atrações turísticas. Um bom exemplo é a imponente Villa Krupp em Duisburg, onde Lucchino Visconti filmou “Crepúsculo dos Deuses”, estrelando Helmut Berger em um relato da decadência da poderosa família durante o período nazista.
Tendo partido a indústria realmente poluidora, o vale do Ruhr tornou-se igualmente pioneiro em tecnologia de despoluição de solo, ar e água. O que hoje se visita é uma sucessão de pequenos conglomerados suburbanos extremamente idílicos e verdes, realmente aprazíveis de ser viver. O governo investe somas significativas não só na despoluição, como na criação e manutenção das novas atrações culturais e ecológicas (os “parques paisagísticos”, o que em inglês se traduziria por brown areas), todas em condição invejável. No recém-reformado Museu Folkwang de Essen pensa-se estar no MoMA nova-iorquino ou na Tate londrina.
Porém, o mais singular museu que visitei no Ruhr foi o Centro Internacional de Arte Luminosa, em uma antiga cervejaria desativada do vilarejo de Unna.
Em visita guiada de 75min, percorre-se os salões subterrâneos da outrora cervejaria. Até agora, 11 artistas internacionais foram convidados a realizarem seus grandes projetos, cada qual em seu próprio salão. Alguns artistas são bastante veteranos e conhecidos nos meios especializados: Mario Merz, Rebecca Horn, James Turnell, Christian Boltansky. Os ambientes de luz e som desafiam descrições ou fotos.
Em um mágico salão onde as passarelas para os visitantes flutuam no ar, 3 globos de espelhos girando, milimetricamente calculados, refletem milhões de pontos luminosos no espaço escuro, como que o Universo em sí.
Em uma sala toda em granito preto, um círculo de mármore branco no chão reflete, sob uma lente poderosa, o que se passa no céu acima; parte da mesma instalação, 3 andares acima, em um cone de concreto a céu aberto, os visitantes sentam-se em bancos circulares e olham o céu como em um filme, recortado em um círculo na ponta do cone: http://www.youtube.com/watch?v=3rJa9kIVwto.
Em uma espécie de “poço” de vários andares, piscam em neon palavras como EU e SIM em várias línguas; o poço é visível de baixo ou de cima, do nível da rua, quando diferem as palavras piscando.
Em um largo corredor escuro, jorram dos dois lados cascatas ininterruptas de gotas d’água, que liricamente cintilam à luz sobre elas.
Entre outras instalações, todas impressionantes.

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